Por Carlos
Augusto Rodrigues de Souza*
A resistência em tratar um sofrimento psíquico (mental) é natural.
Num primeiro momento, hesitamos. Depois, assumimos que precisamos de
ajuda, e o procuramos. Mas, há aqueles que ignoram, escondem, guardam e
carregam o sofrimento dentro de si. Até que num determinado momento este
sofrimento se impõe e transborda. E quando o sofrimento transborda não
tem mais jeito. A necessidade de ajuda é urgente.
Ajuda urgente significa que a pessoa não consegue mais trabalhar,
sente-se estagnada, o relacionamento afetivo fica insuportável, e a
pessoa não aguenta mais a si mesma. Sua mente trava, e seu corpo grita
através de várias dores. São sintomas das mais variadas ordens. Estes
sintomas são formas de ordenar, de organizar o próprio sofrimento.
Não poucas vezes fui indagado se já tratei de pessoas com determinado
sintoma. A resposta é sim e não. Sim já tratei de pessoas deprimidas,
ansiosas, com problemas psicossomáticos e problemas em seus
relacionamentos, pânico, e por aí vai. Mas estas formas de organização
do sofrimento são apenas a ponta do iceberg.
Cada pessoa é única, e sua história singular. Logo, seu sofrimento
também será único e singular. Mesmo que seus sintomas sejam semelhantes a
uma organização depressiva, por exemplo, sua depressão será única no
mundo. Não existirá nenhuma semelhante à sua.
Por isso, mesmo com todo conhecimento e experiência profissional,
diante de um paciente novo… sei que aquela experiência será diferente,
que terei diante de mim uma pessoa que porta uma verdade sobre si e
sobre o mundo únicas, que só ela tem. Seu percurso psicoterápico,
portanto, será único, singular, e novo.
O sofrimento tem uma organização que comunica algo sobre a vida da
pessoa. Mais ainda, ele mostra o quanto esta pessoa é potente. Mas esta
potência, que neste momento, gravita em torno do sofrimento, faz falta
em outras áreas de sua vida.
É isso que dá a ela a sensação de falta de energia e de vazio. A
pessoa desloca uma força significativa para conter o próprio sofrimento.
À medida que a pessoa vai sendo cuidada, sua força vai sendo liberada,
para ser usada de forma criativa, em prol de si mesma, do próximo, e de
seus projetos de vida.
* Carlos Augusto Rodrigues de Souza e psicoterapeuta, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Para saber mais sobre seu trabalho acesse: https://clinicapsicologiakairos.wordpress.com/